Foto: GloboEsporte.com
Impactos negativos causados pela pandemia do coronavírus, orçamentos estourados por ambições desmedidas, dívidas em disparada e difíceis de equacionar. Este é o resumo da situação financeira de quase todo o futebol brasileiro atualmente. Quase, mas não todo o futebol.
No Grêmio, o torcedor pode se decepcionar com qualquer coisa que aconteça dentro de campo, mas tem poucos motivos para preocupação fora dele. No terceiro trimestre de 2020, a partir da leitura do balancete com a visão parcial das finanças na temporada, continua tudo azul.
Receitas
É natural que qualquer clube de futebol perca arrecadação por causa da pandemia do coronavírus. Campeonatos suspensos, depois recomeçados com portões fechados, economia do país ameaçada, enfim, as dificuldades eram óbvias desde o começo da crise.
Mesmo assim, o Grêmio tem conseguido passar pela temporada com perdas mínimas. Entre janeiro e setembro, o clube arrecadou R$ 277 milhões, R$ 22 milhões a menos do que no mesmo período de 2019.
Ainda há um asterisco. Na rubrica "televisão", o clube corrigiu a maneira como vinha contabilizando os recursos da televisão nos balancetes anteriores. Eles precisam ser registrados de acordo com a realização do Campeonato Brasileiro – que foi suspenso por vários meses por causa da pandemia. Assim fez a diretoria de Romildo Bolzan Júnior.
O que a questão contábil interfere na prática? Os R$ 67 milhões que aparecem no quadro acima estão corretos do ponto de vista da contabilidade, mas na realidade o dinheiro que entrou no caixa gremista foi maior do que isso. Então aquela queda nas receitas foi ainda menor.
O Grêmio está acostumado a não ter bilheterias, por causa do modelo adotado na construção de sua arena. O dinheiro fica com a empresa que faz a gestão do estádio, apartada da estrutura da associação civil. Por isso zero antes, zero depois. Fez pouca diferença no cotidiano.
A renda com associados e atividades sociais caiu um pouco, mas não muito. Ela foi compensada com sobras pelas transferências de atletas. Em especial com a saída de Everton para o Benfica por uma quantia que, antes de deduções, aproxima-se de R$ 130 milhões. No quadro acima, aparece a receita líquida de participações e comissões.
Despesas
Nos gastos, fica evidente que a diretoria tricolor fez ajustes para poupar recursos, mas não precisou cortar na carne, como muitos outros clubes têm necessitado fazer nesta época de crise.
No total, foram registrados R$ 211 milhões em despesas de janeiro a setembro. Com uma redução de R$ 14 milhões em relação ao mesmo período do ano anterior. Muito pouco, proporcionalmente falando.
Na "folha", estão salários, encargos trabalhistas e direitos de imagem do futebol e da administração. A redução de apenas R$ 4 milhões mostra que a diretoria conservou a maior parte dos empregos e dos salários.
Custos diretos com futebol caíram sem fazer esforço. Com a suspensão das competições, gastos como transporte e hospedagem foram reduzidos temporariamente em todo o país.
Nas despesas administrativas e na infraestrutura, aparecem compras de materiais, prestadores de serviços, enfim, despesas ligadas ao que acontece no entorno. Em nenhuma dessas linhas houve uma redução drástica, nem tampouco houve aumento fora de hora.
Como receitas e despesas caíram mais ou menos no mesmo compasso, o resultado desses nove meses de 2020 não foi muito diferente do que em 2019. E o mais importante: contas no azul. Houve superavit (lucro).
Um detalhe interessante é o resultado financeiro muito baixo. Nesta linha, aparecem os juros sobre dívidas. Uma vez que a administração de Romildo Bolzan Júnior reorganizou as finanças e baixou o nível de endividamento, o desperdício de dinheiro foi também reduzido.
Dívidas
No endividamento, aparecem os maiores sinais para otimismo. Ao mesmo tempo em que esse indicador está descontrolado na maior parte do futebol brasileiro, no Grêmio ele só cai. Ao término de setembro, havia "apenas" R$ 181 milhões a pagar para credores variados.
Ainda mais impressionante é o recorte por vencimento. Desse total, R$ 60 milhões precisarão ser pagos no curto prazo, ou seja, em menos do que um ano. Apenas 33% sobre o todo. Esse número vem sendo reduzido paulatinamente para facilitar a vida gremista.
Diferente de outros clubes, o Grêmio tem dívidas bancárias praticamente zeradas. Isso dá tranquilidade e ao mesmo tempo abre possibilidades, caso em algum momento uma estratégia mais agressiva for adotada. Existe margem confortável para alavancar o clube com crédito.
Também diferente do restante, dívidas por compras de direitos de atletas são muito baixas. O futebol tem um bom desempenho em campo sem endividar o clube, sinal de eficiência. Obrigações trabalhistas estão controladas, impostos estão em dia, ações judiciais são mínimas.
Na linha "fornecedores" do quadro abaixo, que detalha as dívidas tricolores por natureza, estão incluídos direitos de imagem de jogadores, participações e comissões devidas a intermediários, acordos diversos e, claro, fornecedores de materiais e prestadores de serviços.
Qual o efeito prático de tudo isso? Até o fim da atual temporada, enquanto o futebol brasileiro se desespera para vender jogadores e fazer caixa, o Grêmio tem a possibilidade de manter os jogadores que quiser, talvez ir atrás de reforços. O torcedor pode até se chatear com a derrota em alguma competição. Mas ele sabe que, na temporada seguinte, as chances de o clube continuar na disputa por tudo é grande.
PS.: Caso você tenha a curiosidade de somar os valores acima, chegará a R$ 220 milhões. No critério para endividamento usado pelo blog, ainda precisa ser descontado o valor disponível em caixa e aplicações financeiras. No caso do Grêmio no terceiro trimestre, R$ 39 milhões.
@rodrigocapelo
Grêmio, dívidas
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Receitas
É natural que qualquer clube de futebol perca arrecadação por causa da pandemia do coronavírus. Campeonatos suspensos, depois recomeçados com portões fechados, economia do país ameaçada, enfim, as dificuldades eram óbvias desde o começo da crise.
Mesmo assim, o Grêmio tem conseguido passar pela temporada com perdas mínimas. Entre janeiro e setembro, o clube arrecadou R$ 277 milhões, R$ 22 milhões a menos do que no mesmo período de 2019.
Ainda há um asterisco. Na rubrica "televisão", o clube corrigiu a maneira como vinha contabilizando os recursos da televisão nos balancetes anteriores. Eles precisam ser registrados de acordo com a realização do Campeonato Brasileiro – que foi suspenso por vários meses por causa da pandemia. Assim fez a diretoria de Romildo Bolzan Júnior.
O que a questão contábil interfere na prática? Os R$ 67 milhões que aparecem no quadro acima estão corretos do ponto de vista da contabilidade, mas na realidade o dinheiro que entrou no caixa gremista foi maior do que isso. Então aquela queda nas receitas foi ainda menor.
O Grêmio está acostumado a não ter bilheterias, por causa do modelo adotado na construção de sua arena. O dinheiro fica com a empresa que faz a gestão do estádio, apartada da estrutura da associação civil. Por isso zero antes, zero depois. Fez pouca diferença no cotidiano.
A renda com associados e atividades sociais caiu um pouco, mas não muito. Ela foi compensada com sobras pelas transferências de atletas. Em especial com a saída de Everton para o Benfica por uma quantia que, antes de deduções, aproxima-se de R$ 130 milhões. No quadro acima, aparece a receita líquida de participações e comissões.
Despesas
Nos gastos, fica evidente que a diretoria tricolor fez ajustes para poupar recursos, mas não precisou cortar na carne, como muitos outros clubes têm necessitado fazer nesta época de crise.
No total, foram registrados R$ 211 milhões em despesas de janeiro a setembro. Com uma redução de R$ 14 milhões em relação ao mesmo período do ano anterior. Muito pouco, proporcionalmente falando.
Na "folha", estão salários, encargos trabalhistas e direitos de imagem do futebol e da administração. A redução de apenas R$ 4 milhões mostra que a diretoria conservou a maior parte dos empregos e dos salários.
Custos diretos com futebol caíram sem fazer esforço. Com a suspensão das competições, gastos como transporte e hospedagem foram reduzidos temporariamente em todo o país.
Nas despesas administrativas e na infraestrutura, aparecem compras de materiais, prestadores de serviços, enfim, despesas ligadas ao que acontece no entorno. Em nenhuma dessas linhas houve uma redução drástica, nem tampouco houve aumento fora de hora.
Como receitas e despesas caíram mais ou menos no mesmo compasso, o resultado desses nove meses de 2020 não foi muito diferente do que em 2019. E o mais importante: contas no azul. Houve superavit (lucro).
Um detalhe interessante é o resultado financeiro muito baixo. Nesta linha, aparecem os juros sobre dívidas. Uma vez que a administração de Romildo Bolzan Júnior reorganizou as finanças e baixou o nível de endividamento, o desperdício de dinheiro foi também reduzido.
Dívidas
No endividamento, aparecem os maiores sinais para otimismo. Ao mesmo tempo em que esse indicador está descontrolado na maior parte do futebol brasileiro, no Grêmio ele só cai. Ao término de setembro, havia "apenas" R$ 181 milhões a pagar para credores variados.
Ainda mais impressionante é o recorte por vencimento. Desse total, R$ 60 milhões precisarão ser pagos no curto prazo, ou seja, em menos do que um ano. Apenas 33% sobre o todo. Esse número vem sendo reduzido paulatinamente para facilitar a vida gremista.
Diferente de outros clubes, o Grêmio tem dívidas bancárias praticamente zeradas. Isso dá tranquilidade e ao mesmo tempo abre possibilidades, caso em algum momento uma estratégia mais agressiva for adotada. Existe margem confortável para alavancar o clube com crédito.
Também diferente do restante, dívidas por compras de direitos de atletas são muito baixas. O futebol tem um bom desempenho em campo sem endividar o clube, sinal de eficiência. Obrigações trabalhistas estão controladas, impostos estão em dia, ações judiciais são mínimas.
Na linha "fornecedores" do quadro abaixo, que detalha as dívidas tricolores por natureza, estão incluídos direitos de imagem de jogadores, participações e comissões devidas a intermediários, acordos diversos e, claro, fornecedores de materiais e prestadores de serviços.
Qual o efeito prático de tudo isso? Até o fim da atual temporada, enquanto o futebol brasileiro se desespera para vender jogadores e fazer caixa, o Grêmio tem a possibilidade de manter os jogadores que quiser, talvez ir atrás de reforços. O torcedor pode até se chatear com a derrota em alguma competição. Mas ele sabe que, na temporada seguinte, as chances de o clube continuar na disputa por tudo é grande.
PS.: Caso você tenha a curiosidade de somar os valores acima, chegará a R$ 220 milhões. No critério para endividamento usado pelo blog, ainda precisa ser descontado o valor disponível em caixa e aplicações financeiras. No caso do Grêmio no terceiro trimestre, R$ 39 milhões.
@rodrigocapelo
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