De Campinas a Muriaé: conheça o torcedor que acompanha todos os jogos do Grêmio na Série B

Em 36 rodadas até o acesso, o Grêmio passou por 15 cidades longe de Porto Alegre, em 10 estados brasileiros. Fez 18 partidas como visitante até o momento. Em todas elas, um torcedor esteve ao lado do clube na árdua trajetória para voltar à elite do futebol nacional e seguirá até Muriaé, onde nesta sexta-feira o time encerra o itinerário fora de casa diante do Tombense.



Jeferson Lisboa, 19 anos, viu sua vida mudar em menos de um ano. Em novembro de 2021, o ainda estudante do ensino médio teve uma escolha a fazer: o vestibular para jornalismo ou viajar para São Paulo para acompanhar o Grêmio contra o Corinthians, pela penúltima rodada da Série A. Optou pelo segundo, quando deu início a um projeto.

Atualmente, o jovem vive dos conteúdos que produz sobre o Grêmio, especialmente em seu canal no YouTube, criado naquele empate em Itaquera, que antecedeu o rebaixamento no Brasileirão. Graças a patrocinadores, Lisboa teve recursos para viajar o país para contar a campanha gremista na segunda divisão sob a ótica de um torcedor.

De Campinas, onde o Grêmio estreou na Série B contra a Ponte Preta, até os Aflitos, no carimbo do acesso diante do Náutico, a empreitada do jovem foi desgastante, como ele mesmo ressalta, mas que valeu muito.

– Tem sido uma coisa muito especial para mim, vai ficar marcado na minha vida. Estive junto com o Grêmio, consegui me desdobrar, consegui recursos para estar junto do time. Não abandonei o time. Até brinquei que na Série B o Grêmio nunca vai estar sozinho, porque vou estar lá – brinca Jeferson.

O itinerário de Jeferson:

Campinas (SP)
Ponta Grossa (PR)
Belo Horizonte (MG)
Itu (SP)
Goiânia (GO)
Rio de Janeiro (RJ)
Recife (PE)
Maceió (AL)
Salvador (BA)
Brusque (SC)
Chapecó (SC)
Campinas (SP)
Maceió (AL)
Criciúma (SC)
Novo Horizonte (SP)
São Luís (MA)
Londrina (PR)
Recife (PE)
Muriaé (MG)

Na bagagem, o gremista traz histórias boas e outras nem tanto. Segundo ele, a que mais gostou foi a viagem para Salvador, onde foi acompanhar o duelo contra o Bahia. A razão é que levou a mãe junto, além de ser seu aniversário no dia seguinte à partida, que terminou empatada sem gols.

Histórias curiosas
Certamente o que Jeferson mais levará consigo de toda trajetória com o Grêmio na Série B são histórias para contar. Algumas chamam mais atenção, como quando fez uma peregrinação de ônibus até Itu, no interior paulista.

Após a saída de Porto Alegre até Campinas, o torcedor passou por Indaiatuba e, em seguida, chegou na cidade do Ituano. No Estádio Novelli Júnior, o Grêmio vencia o jogo até os 47 minutos do segundo tempo, mas sofreu o empate, para frustração do jovem.

– O Grêmio tomou um gol no último lance do jogo e eu fiquei muito triste, "p" da vida, porque 20 horas para voltar com aquele sentimento amargo. Eu ia voltar com os três pontos e não voltei. Essa para mim foi a pior (viagem) pelo sentimento que eu estava de vitória – lamenta.

No entanto, mesmo com outros tantos empates como visitante (10 até hoje), alguns momentos valeram mais para o torcedor do que somente o resultado obtido em campo. Um bom exemplo foi no duelo contra o CSA em Maceió, que terminou em 1 a 1.

Na volta a Porto Alegre, Jeferson esteve no mesmo voo da delegação gremista, onde pôde ter contato com seu grande ídolo, Pedro Geromel.

– Como é que eu vou chegar no Geromel pra tirar uma foto com ele? Que vergonha, o cara é meu ídolo, como é que eu vou reagir. Eu tirei uma foto com ele e eu não sabia o que falar. “Eu gosto muito de ti”, foi o que eu consegui soltar – divertiu-se.

– Daí o Geromel passa para ir no banheiro, eu esperei uns cinco minutos ele sair do banheiro para eu conseguir usar, daí o Geromel sai do banheiro, passa Deus na minha frente – acrescenta Jeferson, realizado.

Mas nem todas as experiências do jovem com jogadores gremistas foram boas. Em confronto diante do Novorizontino, o torcedor criticou um atleta, que o respondeu de dentro do campo.

Além de outra empreitada, com viagem de avião e carro alugado até Novo Horizonte, município de pouco mais de 40 mil habitantes no interior paulista, o Grêmio foi derrotado por 2 a 0.

– Escanteio para o Novorizontino, eu cobro ele, “sai do Grêmio, ninguém te quer aqui”, e ele olha para mim, para de prestar atenção no jogo e começa a me encarar. No fim do jogo eu grito “olha para cá de novo”, e ele olha saindo do campo e fala “lá na rua, lá na rua” – relata Jeferson, antes de afirmar que não houve conflito com o jogador na saída do estádio.

Todo o esforço e cansaço do torcedor na jornada de mais de seis meses na Série B foi recompensado justamente num compromisso longe de Porto Alegre, o 18º e penúltimo antes do fim do campeonato.

Em Recife pela segunda vez no ano, Jeferson viu das arquibancadas dos Aflitos o Grêmio vencer o Náutico por 3 a 0 e garantir o acesso à primeira divisão. Desta vez sem batalha, como foi em 2005, quando o jovem tinha apenas dois anos.



– Entrei no estádio e quase me emocionei, lembrando de possíveis gremistas que tiveram a sensação em 2005 achando que o Grêmio não ia classificar, mas o Grêmio subiu. E ter a sensação de comemorar com o time no mesmo lugar foi sensacional. Me emocionei, passou um filme de tudo que passei no ano, vários perrengues para estar junto do Grêmio. Fechei com chave de ouro. Estamos de volta – exalta o torcedor.

A parada final acontece nesta sexta-feira em Muriaé, no interior mineiro, quando o Grêmio encara o Tombense, pela 37ª e penúltima rodada da Série B. O confronto ocorre no Estádio Soares de Azevedo, às 19h.



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