Pausa na carreira, câncer e ligação de Diniz: Jean Pyerre abre o jogo sobre dramas e futuro no futebol

Cria da base do Grêmio, o meia Jean Pyerre negou que tenha se aposentado e…


Fonte: ESPN

Pausa na carreira, câncer e ligação de Diniz: Jean Pyerre abre o jogo sobre dramas e futuro no futebol
Liamara Polli/Getty Images

Longe dos gramados desde o fim do ano passado, o meia Jean Pyerre, de 25 anos, que é cria das categorias de base do Grêmio, deu uma entrevista esclarecedora sobre o que passou nos últimos meses e também sobre os seus planos para o futuro.

Atualmente sem clube, o ainda jovem atleta, que atuou pela última vez no Avaí, resolveu dar uma pausa na carreira e vem se dedicando ao Mind, sua própria equipe de Fut 7. Jean Pyerre, porém, negou, em entrevista ao canal do Duda Garbi, no Youtube, que tenha se aposentado dos gramados e que está se preparando para voltar.

"Estou para voltar. (Os clubes) Sabem que eu quero voltar a jogar futebol. Mas eles têm razão, pegar uma competição em andamento é ruim", começou por dizer.

"Surgiram conversas, mas ainda não chegaram as propostas. Existe receio. É uma aposta. Hoje sou um jogador sem clube", complementou.

No ano passado, logo após a queda do Grêmio para a Série B, Jean Pyerre foi emprestado ao Giresunspor, da Turquia, mas sequer entrou em campo. Isso porque, dias após assinar contrato, descobriu um câncer no testículo. E o processo não foi nada fácil.

"A gente pega a queda à Série B, que também me deram muita culpa. Se você pega, eu sou um dos caras que menos jogou, e foi me dada muita culpa, de tudo. Aí quando eu entrava, o problema era que eu entrava, quando não, o problema era que eu não entrava. O estopim foi quando a torcida estava gritando que o meu pai deveria ter morrido. Não tem mais como eu virar isso, não sou um pobre coitado, mas a partir do momento em que você está jogando em um clube onde as pessoas desejam a morte do seu pai, aí não existe", disse.

"Você para para analisar, como você vai virar um cenário desse? Minha ida para a Turquia é para eu me reencontrar, cheguei lá, fui muito bem recebido, só que, quando deu o meu processo do câncer, mais uma vez eu tive que me virar, eu por eu mesmo", prosseguiu.

"Eu fiz os exames, já fui para o resort, porque era Data Fifa. Os caras falaram "vamos assinar já e tal". Eu não tinha histórico nenhum, toda a vez no Grêmio a gente, começo de ano, faz exames. Um ano antes não tinha nada. Exame de imagem. Fazem um geral do seu corpo, aí apareceu. É o que todo mundo diz (poderia ter agravado), peguei um processo bem no começo. Eu assinei e tudo, treinando. Aí no quarto dia, o tradutor chega para fim e fala "a gente tem que ir ao hospital. Apareceu um negócio no seu testículo e tal". Na hora que ele falou, eu já imaginei "será que não é um câncer?". Um primo meu teve isso. Fomos, e era. Lá os caras descobriram em um dia, no outro queriam fazer cirurgia, no outro começar a quimioterapia. Eu falei "não, vou para o Brasil. Vou fazer isso em casa"", contou.

"O presidente lá só tinha dinheiro para fazer uma investida e começou a me ameaçar. A minha notícia do câncer se espalha porque o presidente tentou cancelar o meu contrato. Não queriam deixar eu vir (para o Brasil), fazer cirurgia e voltar (para a Turquia), queriam que eu fizesse tudo lá. Aí espalham a notícia, "o Jean não passou nos exames". Só que eu já tinha assinado o contrato. Tanto é que ele (presidente) pega e me ofereceu "a gente não conta para o Grêmio que você está com câncer, faz tudo aqui, e a gente não conta para ninguém". Eu falei "não". E ele "eu poderia ter te deixado com câncer até metade do ano, e te contar só no meio do ano". Hoje em dia eu recebo mensagem dos torcedores de lá como se eu fosse o sacana, como se eu quisesse roubar dinheiro do clube. Passagem para voltar eu tive que tirar do meu bolso. Tudo eu brigando e me virando sozinho. O Grêmio nessa hora estava aonde? Até hoje você acha que o Grêmio pagou a minha cirurgia, mas quem pagou fui eu. O Grêmio disse que não poderia se meter em assunto meu com o clube da Turquia, fez dois posts no Instagram me desejando força, colocou a minha foto no telão. E aí? E no fim, quem é o ruim da história? Quem é o traíra, quem fazia tudo? Aí o próprio Denis (Abrahão) me liga, trabalhando um ano comigo, me liga e fala, mostrou o lado humano. "E aí, Jean, como você está?". Conversei com ele, aí ele desligou o telefone e ligou para o meu empresário. "Pô, não sabia que o Jean era um cara legal, de conversar, se soubesse tinha chegado nele antes". Nada nunca impediu. Sempre gostei muito de conversar, do diálogo."

Passagem pelo Avaí

Assim que se recuperou do câncer, Jean Pyerre, ainda com contrato vigente com o Grêmio, foi emprestado ao Avaí. Porém, assim como na Turquia, as coisas não aconteceram como o esperado, inclusive com uma nova queda para a Série B, depois de passar o mesmo no Tricolor.

"Depois que eu tive câncer, para arrumar time ficou difícil. Aí o Grêmio pega "você tem contrato com eles, eles que têm que te pagar, eles que têm que fazer algo contigo até o meio do ano". Eu tentando me virar, aí a gente conseguiu que eu fosse para o Avaí. Lá no Avaí fui muito bem recebido, o clube muito bom, o presidente muito bom, estava tentando reestruturar, o Marquinhos, o (Eduardo) Barroca. O Avaí só se perdeu por uma coisa, por causa do Jorge Macedo. Era o William Thomas, ele que me ligou e falou comigo. Só que ele tinha um projeto legal, bacana. Lá a cidade é boa, a torcida, muito bom lá, foi meu primeiro clube fora do Grêmio. Tudo muito legal, tudo muito bacana. O Jorge chega como o cara que vai resolver, e não resolve. Com o professor Barroca, tinha conseguido (ficar na Série A)", disse.

"Ano passado que eu tinha a minha maior esperança. Eu sempre vivi isso, e aí você tem uma perspectiva, de todo mundo chegar em você, conversar, falar, que você vai ser isso, você vê as pessoas conquistando, os caras que jogam contigo sendo vendidos, e parece que a sua vez não chega nunca. Entra em um processo que eu entrei com o Grêmio, um pouco de atrito, de tudo mais. Aconteceu com o Luan, que é ídolo do clube. Agora o Luan está voltando. É o normal do futebol, acontece isso. São ciclos. Eu abracei um ciclo de que tinha uma ideia na minha cabeça. Eu vou para o Avaí e vou provar para essas pessoas que elas estão erradas sobre mim. Cheguei no Avaí, fui bem tratado, só que o meu desenvolvimento, eu, em jogo e tudo, não foi como eu esperava. Chegou um momento que eu não via mais razão para aquilo, estava saturado. Entrei em um ciclo no Avaí de que "o Avaí está caindo, é culpa do Jean Pyerre". Eu fui reserva o campeonato inteiro. Eu tive um jogo de titular, não tive uma sequência. E tudo bem. Eu não aguento mais esse ciclo. Quando estava em Porto Alegre, não podia sair na rua, em Santa Catarina não podia sair. Você fica, fica, fica. Será que eu trabalhei tanto para isso? Aí chega um momento que você não é mais feliz, não tem dinheiro que te pague, que te compre, não existe. Fiquei muito chateado com uma coisa do meu câncer: fechou todas as portas. E pelo câncer."

Após o empréstimo, Jean Pyerre não retornaria mais aos gramados. Pelo menos por enquanto. Isso porque, segundo o próprio jogador, antes da rescisão de contrato com o Grêmio, o diálogo nunca foi visando a aposentadoria, mas sim apenas para dar um tempo na carreira e refletir.

"A rescisão com o Grêmio, eu tinha um acordo com eles desde dezembro. Desde que eu conversei com o Grêmio, eu nunca disse para o Grêmio "eu quero me aposentar". "Grêmio, você tem algum interesse?". "Não, não temos". Ficamos esperando proposta de clube, mas nada me agradava. Eu falei vamos esperar um tempo. Não (não me aposentei do futebol). Me dei um tempo maior. A gente treina durante a semana, joga nos fins de semana. Lá, querendo ou não, a gente tem um suporte a mais, é bem legal. Quis vivenciar esse ciclo perto dos meus familiares. É meu (o time de Fut7)."

Ligação de Fernando Diniz

Jean Pyerre ainda revelou que, após dar um tempo na carreira, recebeu uma ligação do técnico Fernando Diniz, do Fluminense e interino da seleção brasileira. Entretanto, o contato aconteceu pouco tempo após tomar a decisão, e que por conta disso uma possível ida para o Tricolor das Laranjeiras não aconteceu. O meia, porém, teceu elogios ao treinador e afirmou que torce pelo seu sucesso.

"Eu tinha situação de contrato com o Grêmio para resolver, e quando o Diniz me ligou, eu admiro muito o Diniz e rezo muito que ele ganhe um título, um título bem expressivo. Ele já é uma referência e ainda não tem um título tão expressivo. A forma como ele pensa futebol, como tenta fazer, como tenta tornar o jogo, acho muito legal, muito bacana. A coragem, a forma da vontade, de tudo. Eu acho muito legal. Eu rezo para que as pessoas vejam ele, além de só como uma referência, porque, hoje em dia, ele é uma referência pelo fato de que é a única pessoa que joga dessa forma. Já pensou se tivéssemos três, quatro treinadores que jogassem assim? Seria um exemplo, algo para se seguir. Ele chegou na seleção pela forma de trabalhar, pela forma de jogo. Se você chegar para qualquer jogador, é lindo. De se ver, de jogar, de praticar", disse.

"Ele não me ligou para jogar lá (Fluminense), me ligou como um ser humano. "Como você está? Não quero falar de futebol contigo, quero saber como você está, se está bem". Eu conversei, expliquei o que estava acontecendo comigo, que fazia tempo que não vinha me sentido bem, não vinha me sentindo confortável, que não conseguia mais vez razão para jogar. Tem todos os lados. Meus pais mal em casa por não me verem feliz, eu não sou feliz, morando em Santa Catarina, é aqui do lado, mas você morando sozinho, aí você treina, passa o resto do dia sem fazer nada", prosseguiu.

"Isso aconteceu agora, esse ano, só que tinha três dias que eu estava muito decidido. Se fosse em um dia como hoje, eu diria "não, professor, vamos". Tinha três dias que eu tinha decidido. Eu estava transtornado. Aí você vai em um médico, em um psiquiatra, e o cara fala "nunca vi um estado que nem esse seu". Agora menos (faço terapia). No começo era duas vezes por semana. Eu estava em um momento que, para o futebol, não conseguia mais. Deu, já era", finalizou.



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