Da captação à formação: entenda o trabalho do Grêmio na base para gerar quase R$ 1 bilhão em vendas

Tricolor calcula ter feito negócios na casa do R$ 1 bilhão na última decada. O ge mostra como o clube faz a busca por novos talentos e os conduz ao profissional


Fonte: ge

Da captação à formação: entenda o trabalho do Grêmio na base para gerar quase R$ 1 bilhão em vendas

Há pouco mais de um mês, o Grêmio concretizou a venda de Bitello por 10 milhões de euros e manteve uma tradição dos últimos anos, de revelar e vender jogadores oriundos das categorias de base. O clube calcula ter arrecadado cerca de R$ 1 bilhão com pratas da casa na última década. Fruto de um processo estruturado que vai da captação à formação de jogadores.

De 2013 para cá, o Grêmio gerou R$ 800 milhões em vendas de jogadores formados no clube. A conta inclui nomes como Arthur, que já rendeu mais de 33 milhões de euros aos cofres e é a maior venda da história gremista, até Bitello, a última negociação.

Com gatilhos e porcentagens mantidas de olho em vendas futuras, o número chega no R$ 1 bilhão, conforme levantamento do clube. A conta leva em consideração os valores completos dos negócios, embora o Grêmio em diversas situações tenha direcionado parte das quantias a terceiros.

Negociado com clube russo, Bitello foi a venda mais recente de jogadores formados no Grêmio

A convite do próprio Grêmio, o ge foi até o Centro de Treinamentos Hélio Dourado, em Eldorado do Sul, conhecer de perto o trabalho de formação gremista. O coordenador geral das categorias da base, Francesco Barletta, que está no clube há mais de 20 anos e passou por diferentes funções na base, explicou como funciona as principais etapas da formação, da captação de garotos, à fase de desenvolvimento até a promoção ao time profissional. Confira abaixo.

Olhos espalhados pelo Brasil

Tudo começa pela garimpagem de novos talentos. E engana-se quem pensa que eles batem à porta do clube. Grande parte dos jogadores que hoje integram as categorias de base do Grêmio foram descobertos por iniciativa do próprio clube, cuja atuação não se restringe ao Rio Grande do Sul e alcança os principais centros do país.

Atualmente, o Grêmio tem sete captadores, antigamente chamados de "olheiros", espalhados pelo país . Eles estão distribuídos da seguinte forma: um em São Paulo, um no Rio de Janeiro, um na região Centro-Oeste, um no Nordeste, um no Paraná, um em Santa Catarina e outro no interior do Rio Grande do Sul.

Além dos sete olheiros, o clube também tem 15 núcleos de captação espalhados pelo país, que nada mais são do que escolas de futebol. Essas escolinhas atuam em um raio de 200 quilômetros das cidades onde estão sediadas. Todos em busca de um perfil: jovens jogadores com talento e margem para desenvolvimento dentro do próprio Grêmio.

– A gente tem uma captação em que buscamos muitos jogadores que não participam de grandes equipes. Por exemplo, não costumamos buscar jogadores de Palmeiras, Corinthians e outros gigantes. Não é que não buscamos, mas são raras exceções. Sempre procuramos buscar jogadores que temos margem para trabalhar – explica Barletta.

O olheiro busca a pedra bruta. Aqui nós vamos lapidando. Mas ele busca o potencial.
— Francesco Barletta, coordenador das categorias da base do Grêmio
Grêmio faturou o título de campeão gaúcho sub-20 em 2023 — Foto: Renan Jardim/Grêmio

Grêmio faturou o título de campeão gaúcho sub-20 em 2023 — Foto: Renan Jardim/Grêmio

Para levar um garoto ao CT Hélio Dourado, o olheiro desenvolve um relatório do jogador e debate primeiro com os coordenadores da captação técnica das categorias de base do Grêmio. O resultado dessa reunião chega ao coordenador, que dá o aval ou não para tentar contratar o atleta.

A negociação com a família das jovens promessas começa já com o captador, que divulga o trabalho do Grêmio e tenta convencer o atleta e os pais a vir para o Rio Grande do Sul. A fama de revelar jogadores ajuda nesse processo.

– Uma coisa que vende é a nossa relação com o profissional, porque as pessoas enxergam que a gente promove jogadores. Assim, todos acreditam no processo e têm a vontade de vir pra cá. Tem exemplos de sucesso – conta o coordenador.

Francesco Barletta, coordenador geral da base do Grêmio — Foto: Rodrigo Fatturi/Grêmio

Francesco Barletta, coordenador geral da base do Grêmio — Foto: Rodrigo Fatturi/Grêmio

Os primeiros passos na formação

Neste ano, o Grêmio renomeou e alinhou alguns processos nas categorias de base. O primeiro, quando o atleta chega no CT Hélio Dourado, é a etapa de inserção . É uma fase de adaptação do jovem e quando ele começa a receber as primeiras informações sobra as partes técnica, tática e física. Só depois e ele é encaminhado para outras etapas, de acordo com sua idade e desenvolvimento.

– É um processo de paciência. Dos meninos que vêm para cá, são raros os que chegam e jogam, tanto que agora até criamos um processo que chamamos de inserção, que é uma categoria que só faz esse tipo de trabalho. Ele chega aqui, é apresentado ao clube, adaptação física, técnica, de jogo, para depois passar ele para categoria dele. Recebemos meninos de todos os lugares do Brasil, a diferença cultural é muito grande – detalha Barletta.

É normal, por exemplo, alguns meninos engordarem no primeiro mês alojados no CT. E isso tem uma explicação. Muitos chegam de famílias com situação financeira difícil, sem acesso a uma alimentação básica e de qualidade. Nos primeiros dias, todos podem comer à vontade, mas depois passam por um processo de reeducação alimentar.

Os garotos recebem orientação de uma equipe multidisciplinar, com profissionais de diferentes áreas de atuação. No total, 75 funcionários trabalham no CT Hélio Dourado . São quatro áreas: gestão de pessoas, que é a parte administrativa e psicossocial; saúde e performance, que engloba departamento médico e preparação física, e a área de coordenação e captação.

Jogador das categorias de base do Grêmio no CT Hélio Dourado — Foto: Renan Jardim/Grêmio FBPA

Jogador das categorias de base do Grêmio no CT Hélio Dourado — Foto: Renan Jardim/Grêmio FBPA

Além da formação desportiva, o clube também tem preocupação com a formação de cidadania. Os atletas precisam frequentar a escola e cada um recebe uma nota, de acordo com uma avaliação multidisciplinar realizada pelo Grêmio. Essa nota avalia desempenho escolar, nos treinos e jogos e também o comportamento no dia a dia e é levada em consideração para definir a trajetória dos jovens dentro do clube.

O caminho até o profissional

Recentemente, a base do Grêmio também passou por uma mudança na nomenclatura das categorias . Em vez da idade (sub-15, sub-17, sub-20), as categorias foram divididas por etapas . A primeira, já citada, é a de inserção, seguida pela de desenvolvimento, de preparação, em que o atleta é preparado para suportar uma partida e exposição na mídia, e a de promoção, a última etapa antes do profissional.

Por motivos óbvios, essa última categoria tem uma relação mais próxima com o elenco profissional, sob o comando do técnico Renato Portaluppi. O contato é feito entre o coordenador técnico da base, Círio Quadros, com o supervisor de futebol, Marcelo Rudolph, e os auxiliares de Renato, Marcelo Sales e Victor Hugo Signorelli.

– A gente já não manda os jogadores para lá, eles pedem o jogador. Pedem o fulano ou ciclano. O grau de intimidade já está nesse ponto e isso é importante. Todos os jogos eles vêm ver, já vieram em treinamentos. Então esse elo desses quatro caras tem sido fundamental – ressalta Barletta.

Hoje, todos os nossos jogadores com idade sub-20 e grande parte dos que têm 17 anos já treinaram no profissional pelo menos umas cinco vezes"
— Francesco Barletta, coordenador geral da base
Jogadores das categorias de base do Grêmio no CT Hélio Dourado — Foto: Rodrigo Fatturi/Grêmio

Jogadores das categorias de base do Grêmio no CT Hélio Dourado — Foto: Rodrigo Fatturi/Grêmio

Antes, o Grêmio fazia um controle de quantos e quais jogadores da base participavam dos treinos com o elenco profissional. Porém, virou algo tão frequente que se tornou sem sentido contabilizar.

Muitas vezes, Renato chama um grupo grande de jovens dos times sub-20 ou sub-17 para treinos em que simula o time adversário. Ou seja, desde cedo os jovens têm contato com a comissão técnica principal e o grupo de jogadores e, além de ganharem experiência, podem ser observados.

Uma das medidas que ajudou nessa aproximação foi o fim do time de transição (sub-23), iniciativa implementada desde a chegada da nova direção liderada pelo presidente Alberto Guerra. Na teoria, essa mudança encurtou a distância da categoria de base para o grupo principal.

– No começo do ano tivemos que ajustar algumas coisas, porque trabalhávamos para mais um estágio, agora é direto para o profissional. Muda. Tivemos que acelerar algumas coisas aqui, algumas situações, para que o atleta chegasse mais preparado – relata o coordenador da base.

Infraestrutura e reforma do CT

Nada disso faz muito sentido se os jovens não tiverem uma boa estrutura para se desenvolverem. O CT Hélio Dourado, específico para as categorias de base, ocupa uma área de 26 hectares. No total, são oito campos de treinamento , um deles com medida reduzida, para treinos específicos. Outro é o estádio Airton Ferreira da Silva, onde a base disputa os campeonatos e que tem capacidade para cerca de mil espectadores.

CT Hélio Dourado foi modernizado em 2021 — Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

CT Hélio Dourado foi modernizado em 2021 — Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Dois prédios fazem parte do complexo, reinaugurado em março de 2021 depois de um ano e meio de reformas e quase R$ 10 milhões de investimento. Um é o prédio da saúde, que conta com academia, sala de fisioterapia, fisiologia, departamento médico e ambulatório, além de quatro vestiários para os atletas e comissão técnica.

O outro prédio, ainda maior, é da residência esportiva. É o local onde muitos garotos da base do Grêmio moram. São 20 dormitórios ao total e capacidade para abrigar 120 atletas ao mesmo tempo – atualmente, 68 vivem no CT Hélio Dourado. Nesse espaço há sala de convivência, sala de estudos, rouparia, auditório, lavanderia, refeitório e sala do setor psicossocial.

Por tudo isso, não seria exagero dizer que o futuro do Grêmio passa pelo trabalho desenvolvido em Eldorado. Não só pelo retorno financeiro, mas também pelo material que fornece para o time principal, ano após a ano. Não à toa, grandes ídolos da torcida gremista foram formados dentro do clube e as maiores conquistas sempre contaram com a presença de jogadores da base.

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