
Para começar, quero dar efusivos parabéns a Internacional e Grêmio pela iniciativa de reservar um espaço para torcida mista no Grenal. Foi bonito, até comovente mas, principalmente, necessário. Para lembrar à sociedade e aos seres ainda humanos que a integram que futebol não é guerra, adversário não é inimigo, violência é intolerável no esporte ou fora dele.
Valores que aprendi em casa, mas que nos tempos de hoje não são mais ensinados pela maioria dos pais, sempre com outros afazeres mais importantes do que cuidar dos filhos.
Isto posto, reverência à iniciativa feita, devo dizer que temo muito que os "especialistas", as autoridades policiais que preferem o caminho menos trabalhoso, vão se apressar em dizer: "Viram? Deu certo. Vamos implantar torcida mista em todos os estádios..."
Vou contar aos meninos que não eram nascidos nos anos 70 e 80 como era ver futebol no estádio, e porque dava certo. O exemplo é o Maracanã (o antigo, que era minha segunda casa, não o novo, o europeu), segundo lugar onde passei mais tempo na vida, depois da casa de meus pais. A geral era o altar da torcida mista. Quem ia pra lá sabia que estaria misturado aos adversários e que tanto tinha liberdade para extravasar a alegria com seu time como tinha o dever de ser tolerante com os vizinhos. Isto acertado e aceito por todos, não havia confusão. Quando saia corre-corre era arrastão. Ou seja: crime, bandidagem, caso de polícia, como ocorre por exemplo nas praias, nada a ver com torcer.
As cadeiras azuis e as numeradas eram o segundo palco onde as torcidas se misturavam sem estresse ou conflito. Por serem ingressos mais caros, não havia arrastão. E cabem nos dedos de minha mão direita as lembranças de algum bate-boca que eu tenha visto nesses setores.
E havia a sacrossanta arquibancada. Ali era o seguinte: cada torcida no seu canto. Na parte central do anel, havia a convivência dos opostos, que sabiam que, se ali estavam, é porque não havia mais lugar nas extremidades. Ali, volta e meia, saia briga. Fruto da mesma iniciativa covarde de risca o fósforo para a barbárie de hoje em dia. Mas havia uma diferença fundamental, decisiva, que traz em si o caminho para resolver a questão de hoje: os baderneiros queriam agredir a torcida rival. Faziam isso, mas quando a polícia chegava, saía todo mundo correndo e a confusão acabava. O que isso significa? Que havia má intenção, violência, banditismo. Mas havia respeito à lei, temia-se a polícia, ela era capaz de impor respeito. Sua chegada signifcava um limite intransponível.
Hoje, os bandidos organizados não querem agredir o adversário, querem matá-lo. Mais: não brigam só com o adversário, brigam entre si. Mais, pior, e decisivo: encaram a polícia, não a temem, não a respeitam, querem também derrotá-la, colocam a ordem geral em xeque, rasgam um código que vale até em guerras. Inviabilizam o encerramento do caos.
Outro aspecto fundamental para minha preocupação de que o necessário paliativo imaginado pela dupla Grenal vire regra: futebol sempre foi e só sobreviverá se continuar sendo PAIXÃO. Eu não quero acompanhar um jogo do meu time ao lado de um torcedor adversário. Quando meu time faz gol eu quero vibrar, urrar, cair no chão, me abraçar com os meus, sejam eles conhecidos ou não. Aliás, tendo seriamente a achar que não houve problemas no Beira-Rio porque o Grenal acabou 0 a 0...
A torcida do meu time é, naqueles 90 minutos, minha família. Ali todos são aceitos, ricos falam no mesmo tom com pobres, negros integram-se à perfeição com brancos - como todos sonham, mas que só numa arquibancada, torcendo-se pro mesmo time, se concretiza uma união de tal intensidade. Se meu time leva um gol, deixa de ser um evento prazeroso para mim ver, no meu lado, um torcedor adversário vibrando como eu vibro. Vai me irritar - e, como sou educado e civilizado, terei de engolir a irritação calado. E tenho todo o direito de, pagando por meu ingresso, ter prazer em acompanhar o evento.
Mesmo nos moldes do Maracanã de hoje: uma das coisas mais bacanas que eles permitem é o jogador ir festejar o gol nos braços dos privilegiados que pagam uma fortuna para sentar próximo ao gramado. Se todo o estádio for de torcida mista, o artilheiro terá de abraçar um ou dois, aí pula o seguinte, abraça outro, pula mais três... Patético, não?
Cansei de ir ao Maracanã com grupos de amigos que torciam para os mais variados times. E optávamos: ou íamos para a geral, sempre divertidíssima, ou cada um ia para o seu lado da arquibancada e marcávamos um ponto de reencontro no fim do jogo. Fosse qual fosse o placar, esse reencontro era sempre feliz, vencedores zoavam vencidos e íamos pra casa felizes.
Estou seguro de que 90% dos que frequentaram - duas ou três vezes por semana - a arquibancada do Maracanã nos anos 70 e 80 não quer ir para torcida mista. Mesmo percentual que concorda que adversário não é inimigo. Mesmo percentual que respeita a autoridade policial. Mesmo percentual que, ao acabar o jogo, vai reencontrar e celebrar com os amigos. Mesmo percentual que pensa e vê futebol como eu.
O problema é a visão de mundo de parte das gerações "de hoje". Enquanto não houver respeito e temor à polícia - e enquanto esta também não voltar a se dar um pouco ao respeito -, e não se colocar um freio no avanço da bandidagem dentro dos clubes e até na política, o futebol será tocada à base de paliativos, alguns até bacanas como o do Grenal. E ficará cada vez mais chato do que já está ficando.
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Valores que aprendi em casa, mas que nos tempos de hoje não são mais ensinados pela maioria dos pais, sempre com outros afazeres mais importantes do que cuidar dos filhos.
Isto posto, reverência à iniciativa feita, devo dizer que temo muito que os "especialistas", as autoridades policiais que preferem o caminho menos trabalhoso, vão se apressar em dizer: "Viram? Deu certo. Vamos implantar torcida mista em todos os estádios..."
Vou contar aos meninos que não eram nascidos nos anos 70 e 80 como era ver futebol no estádio, e porque dava certo. O exemplo é o Maracanã (o antigo, que era minha segunda casa, não o novo, o europeu), segundo lugar onde passei mais tempo na vida, depois da casa de meus pais. A geral era o altar da torcida mista. Quem ia pra lá sabia que estaria misturado aos adversários e que tanto tinha liberdade para extravasar a alegria com seu time como tinha o dever de ser tolerante com os vizinhos. Isto acertado e aceito por todos, não havia confusão. Quando saia corre-corre era arrastão. Ou seja: crime, bandidagem, caso de polícia, como ocorre por exemplo nas praias, nada a ver com torcer.
As cadeiras azuis e as numeradas eram o segundo palco onde as torcidas se misturavam sem estresse ou conflito. Por serem ingressos mais caros, não havia arrastão. E cabem nos dedos de minha mão direita as lembranças de algum bate-boca que eu tenha visto nesses setores.
E havia a sacrossanta arquibancada. Ali era o seguinte: cada torcida no seu canto. Na parte central do anel, havia a convivência dos opostos, que sabiam que, se ali estavam, é porque não havia mais lugar nas extremidades. Ali, volta e meia, saia briga. Fruto da mesma iniciativa covarde de risca o fósforo para a barbárie de hoje em dia. Mas havia uma diferença fundamental, decisiva, que traz em si o caminho para resolver a questão de hoje: os baderneiros queriam agredir a torcida rival. Faziam isso, mas quando a polícia chegava, saía todo mundo correndo e a confusão acabava. O que isso significa? Que havia má intenção, violência, banditismo. Mas havia respeito à lei, temia-se a polícia, ela era capaz de impor respeito. Sua chegada signifcava um limite intransponível.
Hoje, os bandidos organizados não querem agredir o adversário, querem matá-lo. Mais: não brigam só com o adversário, brigam entre si. Mais, pior, e decisivo: encaram a polícia, não a temem, não a respeitam, querem também derrotá-la, colocam a ordem geral em xeque, rasgam um código que vale até em guerras. Inviabilizam o encerramento do caos.
Outro aspecto fundamental para minha preocupação de que o necessário paliativo imaginado pela dupla Grenal vire regra: futebol sempre foi e só sobreviverá se continuar sendo PAIXÃO. Eu não quero acompanhar um jogo do meu time ao lado de um torcedor adversário. Quando meu time faz gol eu quero vibrar, urrar, cair no chão, me abraçar com os meus, sejam eles conhecidos ou não. Aliás, tendo seriamente a achar que não houve problemas no Beira-Rio porque o Grenal acabou 0 a 0...
A torcida do meu time é, naqueles 90 minutos, minha família. Ali todos são aceitos, ricos falam no mesmo tom com pobres, negros integram-se à perfeição com brancos - como todos sonham, mas que só numa arquibancada, torcendo-se pro mesmo time, se concretiza uma união de tal intensidade. Se meu time leva um gol, deixa de ser um evento prazeroso para mim ver, no meu lado, um torcedor adversário vibrando como eu vibro. Vai me irritar - e, como sou educado e civilizado, terei de engolir a irritação calado. E tenho todo o direito de, pagando por meu ingresso, ter prazer em acompanhar o evento.
Mesmo nos moldes do Maracanã de hoje: uma das coisas mais bacanas que eles permitem é o jogador ir festejar o gol nos braços dos privilegiados que pagam uma fortuna para sentar próximo ao gramado. Se todo o estádio for de torcida mista, o artilheiro terá de abraçar um ou dois, aí pula o seguinte, abraça outro, pula mais três... Patético, não?
Cansei de ir ao Maracanã com grupos de amigos que torciam para os mais variados times. E optávamos: ou íamos para a geral, sempre divertidíssima, ou cada um ia para o seu lado da arquibancada e marcávamos um ponto de reencontro no fim do jogo. Fosse qual fosse o placar, esse reencontro era sempre feliz, vencedores zoavam vencidos e íamos pra casa felizes.
Estou seguro de que 90% dos que frequentaram - duas ou três vezes por semana - a arquibancada do Maracanã nos anos 70 e 80 não quer ir para torcida mista. Mesmo percentual que concorda que adversário não é inimigo. Mesmo percentual que respeita a autoridade policial. Mesmo percentual que, ao acabar o jogo, vai reencontrar e celebrar com os amigos. Mesmo percentual que pensa e vê futebol como eu.
O problema é a visão de mundo de parte das gerações "de hoje". Enquanto não houver respeito e temor à polícia - e enquanto esta também não voltar a se dar um pouco ao respeito -, e não se colocar um freio no avanço da bandidagem dentro dos clubes e até na política, o futebol será tocada à base de paliativos, alguns até bacanas como o do Grenal. E ficará cada vez mais chato do que já está ficando.
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